domingo, 23 de outubro de 2011

Você respeita seus limites de estudos?

Independente do contexto envolvido e do campo do saber considerado, o conhecimento é algo ilimitado. Quanto mais estudamos, mais percebemos o quanto temos o que aprender e mais nos angustiamos com o fato de não avançarmos como gostaríamos. As vezes quase se transforma num vício compulsivo!
No contexto da preparação para concursos e exames, a situação se torna um pouco mais complexa e difícil, pois além da referida angústia natural com a busca do conhecimento, há alguma dose de pressão para o avanço no edital, bem como para a disponibilidade intelectual das informações e conhecimentos passíveis de solicitação no momento da prova.
Porém, existem limites das nossas capacidades cognitivas humanas a serem considerados e observados nos estudos. É sobre isto que trata o presente texto.
Se o candidato a concursos públicos e exames pudesse escolher, muitos ficariam numa biblioteca estudando numa quantidade de horas incompatíveis com o funcionamento cognitivo do ser humano. Ou seja, se submeteria todos os dias a uma overdose intelectual! Que maravilha seria!
Durante o meu processo de preparação para concursos houve um período privilegiado no qual tive condições de me dedicar exclusivamente aos estudos. Minha meta era estudar em torno de 60 horas por semana. Mas apesar do elevado quantitativo de tempo de estudos, empiricamente e sem as noções que tenho atualmente acerca dos nossos mecanismos e fenômenos cognitivos, havia construído o que considero uma rotina equilibrada.
Como assim? De segunda à sexta-feira estudava cerca de 3 hs e 30 min pela manhã, fazia uma pausa e tentando me restaurar no almoço, o que durava em por volta de 1 h. e 30 min, voltava à biblioteca e estudava de 3 hs e 30 min a 4 hs, encerrava o referido turno de estudos vespertino e ia para a academia, retornando à biblioteca no horário noturno para mais 3 hs e 30 min de estudo. Nos finais de semana procurava estudar aos sábados 2 hs pela manhã e 4 horas no período da tarde, sendo que aos domingos estudava 4 horas no período da tarde.
Com esta rotina, exposta a título de exemplo e para provocar a reflexão, considero que a cada turno de estudos conseguia evitar a extrapolação dos meus limites, bem como contava com estratégias de restauradoras, na medida em que quando começava a me saturar adotava uma pausa de recomposição intelectual. E com isto, numa avaliação apenas empírica à época, estava sempre em condições adequadas ao processo de aprendizagem.
Mas conceitualmente, o que está por trás e qual o sentido desta idéia de respeito aos nossos limites?
Uma primeira compreensão a ser considerada consiste na noção de que aquela venha colocação de que usamos apenas 10% do nosso cérebro trata-se de uma falácia. Aliás, conforme explicitei no livro que escrevi sobre o tema da metapreparação para concursos (Como se Preparar para Concursos com Alto rendimento. Ed. Método, pág 124), há um conceito denominado “brainscams”, o qual corresponde aos mitos falaciosos sobre o funcionamento do cérebro, tendo como precursor o cientista Barry L. Beyrestein, que foi responsável por desconstruir a referida mentira da não utilização plena das nossos estruturas neurológicas. Inclusive, infelizmente, nesta área da preparação para concursos existem muitas soluções apresentadas por “especialistas sem especialização”, com formação em cultura intuitiva e de almanaque, que se enquadram no referido conceito.
É bem verdade, porém, que o cérebro se sujeita à lógica da plasticidade, segundo a qual quanto mais demandado e estimulado for, maior será a capacidade de respostas, o que consiste em conceito de grande importância para quem estuda para concursos e exames. Mas o fato é queusamos o que temos.
Outro conceito relevante para a compreensão dos nossos limites consiste na idéia de que a atenção corresponde a uma função cognitiva primária, necessária não apenas para a aprendizagem, mas também para a formação de memórias. Isto vale tanto para as memórias de trabalho (curtíssimo prazo), quanto para a memória de longo prazo.
o funcionamento da atenção nos estudos depende da atuação de uma área específica do cérebro, a qual pode se sujeitar ao esgotamento (clique aqui para ler Dê Atenção à Atenção!)
Portanto, o desrespeito aos nossos limites, pode comprometer a atuação do mecanismo cognitivo responsável pela atenção, a qual consiste no primeiro passo do processo de apropriação intelectual das informações estudadas. E assim, tudo o que vem depois fica também comprometido.
Outro conceito importante, diretamente relacionado ao processo de formação de memórias, principalmente as de longo prazo, é que estes mecanismos demandam uma série de atividades bioquímicas, vez que as memórias decorrem da atuação de neurônios e neurotransmissores. E se faltar neurotransmissores, por uma questão de saturação, não haverá formação de memórias.
Conforme sustenta acerca do tema o Professor e Neurologista Ivan Izquierdo, há uma capacidade bioquímica instalada que pode ser saturada. Segundo o autor, “…a sensação quase física que todos experimentamos alguma vez de que, ao acabar determinada atividade intelectual, como um período de estudo intenso ou uma aula, ‘não cabe mais nada em nossa cabeça’ corresponde a um fato real…usa-se, cada vez, uma porcentagem bastante grande da ‘capacidade’ bioquímica ‘instalada’ de nosso hipocampo...” (IZQUIERDO, Ivan. Memória. Porto Alegre: Artmed, p. 46).
Além destas considerações, existem estudos no sentido de que a intensa atividade intelectual, por um longo período pode provocar a ação de enzimas que comprometem negativamente a formação de memórias. Conforme pesquisa noticiada na Revista Mente&Cérebro, “Quando nos concentramos por muito tempo em uma atividade, sem parar para descansar, há um aumento dos níveis da enzima tirosina fosfatase SHP-2. Ela interfere no armazenamento de informações na memória” (Ano XVIII, no. 220, p. 73).
Todas estas colocações são apresentadas no sentido de que você se convença de que existem limites a serem observados. Felizmente ou infelizmente!
E estes precisam ser compreendidos, considerando uma série de variáveis subjetivas e pessoais, sendo inviável universalizações generalizantes, vez que, como se diz na linguagem popular, em termos cognitivos, “cada um é cada um”.
Isto significa que é preciso, por um lado, se avaliar e se conhecer a todo momento, de modo que os limites sejam respeitados. Porém, por outro lado, isto não significa abdicar de esforço intelectual e não se empenhar nos estudos.
Ou seja, trata-se de uma questão de equilíbrio e bom senso dinâmico. Dinâmico pois, conforme a lógica da plasticidade, na medida em que nos mantemos empenhados e disciplinados nos estudos, as nossas capacidades e limites cognitivos tendem a avançar.
Além de todas as considerações desenvolvidas, também é fundamental, inclusive para a eficácia dos processos de aprendizagem, a dedicação de algum tempo para a atividade física. E isto não se trata de conselho com contornos de senso comum intuitivo. Existem diversos fundamentos para tal compreensão (clique aqui para ler O Papel da Atividade Física na Preparação para Concursos).
O mesmo se diga quanto ao sono, o qual tem um papel relevante inclusive no processo de formação de memórias (clique aqui para ler A Importância do Sono na Preparação para Concursos).
Tomando os referidos cuidados quanto a seus limites, além de preservar um dos bens mais valiosos que tem, ou seja, a sua saúde, você estará em condições de desenvolver uma aprendizagem eficaz e eficiente na preparação para o concurso.
Bom estudo e respeite os seus limites!
Fonte: Prof. R. Neiva. 


Obs. Achei este texto no blog da  http://catia-pipoca.blogspot.com/
Muito bom.
Grande abraço

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